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A Canção-da-Índia na passarela

Por: Andressa Mendes

Ao lado sofá está ela, forte e robusta como uma coroa. Ela olha para mim e eu para ela. Embora meu olhar esteja mais inclinado para as imagens coloridas que passam pela televisão. Minha visão periférica ainda reflete o amarelo limão de suas mangas e o vestido verde bandeira que ela usa. 

 

Nem mesmo as luzes incandescentes, que tentam me roubar a atenção, são capazes de diminuir o espaço dela. Suas dobras são ornamentais, e dizem que ela é muito versátil e, por isso, comporta-se como uma rainha. Minha mãe - como uma boa amante de plantas - ainda não aprendeu que o local já tem uma mestra. A Canção-da-Índia possui notas diferentes e, assim, se destaca.

 

O privilégio de suas companheiras de terreno, é poder olhar para dentro e imaginar como seriam suas idas e vindas, como teria sido passar anos e anos viajando para tão distante da sua própria essência enraizada naquele cantinho conquistado. Porém, ela é soberana,  portanto, a única a viver em dois lugares, e ainda se deleita com as mordomias de ser bem cuidada. Ela tem o poder de escolher onde quer ficar, quando quer sentir o ar puro, pede gentilmente para que a levem para a rua, onde pode ficar próxima das suas irmãs, e quando a primavera chega ela resolve se abrir; se abrir para o mundo e receber toda a energia renovadora do novo vento que sopra. Ela faz da rua sua passarela. Ela se derrama cobrindo tudo com amor.

 

Nunca questionei minha mãe sobre a importância de ter organismos vivos capazes de purificar nosso ar. Sempre achei que era por capricho, já que gastava horas na floricultura aos finais de semanas.

 

Por vezes, a senhorinha cumpri demais com seus deveres. Ela orquestra sua própria composição, enquanto domina os espaços com belas e formosas folhas, que reluzem vitalidade. No canto da sala ou na passarela em céu aberto - que cerca seu palácio - ela continua adaptando-se até com astro rei, mesmo que tenha ganhado algumas cicatrizes. Mas não se deixe enganar por sua engenhosidade, nós humanos também somos mutáveis, em virtude dos nossos percursos. Há anos, aprendemos ser tão perene quanto ela.

© 2021 por Andressa Mendes. Criado com Wix.com

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