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O Farol

  • Foto do escritor: Andressa Mendes
    Andressa Mendes
  • 24 de jan. de 2020
  • 2 min de leitura

(Reprodução/A24)

O gênero terror já não é mais tão assustador quanto antes. O medo passou ser o entretenimento. Porém, o novato diretor Robert Eggers, que já tem no currículo A Bruxa (2016)reconstruiu o que parecia ser impossível. 


O longa O Farol conta a história de dois marinheiros: o veterano Thomas Wake (Willem Dafoe) e o jovem Ephraim Winslow (Robert Pattinson). Ambos são enviados a uma ilha distante para cuidar da manutenção de um farol. Entretanto, o que era uma tarefa fácil vira um martírio.  O roteiro é assinado pelos irmãos Robert e Max Eggers, que escrevem uma história meticulosamente hierárquica. Mas prestem atenção às pegadinhas. Primeira: o filme não se enquadra em nenhum gênero. Pode parecer preguiça a opção do diretor em gravar o filme em película 35mm ou, ainda, utilizar o certeiro artifício do preto e branco para dar profundidade a uma narrativa enlouquecedora. Mas, a partir dos minutos iniciais, quando um barulho ensurdecedor invade a primeira cena em que os personagens aparecem juntos, um efervescer de emoções ecoa pelo cinema. 


A dinâmica da narrativa é construída a partir da perspectiva de Winslow, um jovem melancólico e atormentado por suas escolhas que bate de frente com o veterano Wake, um homem cansado e castigado pelo tempo, que faz de tudo para manter sua integridade. Os diálogos são bem desenvolvidos e oportunos. O filme também é recheado de intensos monólogos declamados para marcar a individualidade de cada personagem. Dafoe dá uma aula de performance. Não é apenas o barulho que compõem as cenas. As palavras são como irmãos que complementam e dão sentido a loucura intermitente. 


A graça do filme não é o farol em si, mas como a jornada de Wake e Winslow segue um rumo. A sensação de perigo não está na presença de figuras misteriosas e evocativas que permutam o filme, mas na certeza de que uma palavra dita fora do contexto pode causar o caos. Por ser jovem e almejar algo melhor para si, Winslow é a personificação da desordem. Porém, é  diante de sua inquietação que as revelações são construídas. A relação entre os dois é a alma para adentrar suas dores e para o conflito. Os personagens demonstram como é estar confinado, como é viver isolado. O Farol é somente uma alegoria para a loucura, um caminho para lidar com a solidão, que deixa suas vidas em transe.  


A trilha sonora está ausente no longa. Os diretores optaram por elevar os momentos de tensão diante de um som marcante. Mas ela não faz falta. A fotografia é impecável e a imersão, que muitas vezes poderia ser marcada apenas por uma música, encontra-se presente na rotina pacata em que os personagens são expostos. O roteiro dá um salto brusco entre o real e o ilusório. Mas se sobressai, pois em nenhum momento é deixado claro que ali existe uma narrativa regular. 


O Farol é um filme duro, difícil de deixar uma boa impressão para quem busca uma experiência mais “dark”. Entretanto, é possível enxergar, diante de uma grande produção, a autenticidade do longa. 

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© 2021 por Andressa Mendes. Criado com Wix.com

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